sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Não me diga adeus


1)
Tununa Mercado reuniu em seu livro La letra de lo mínimo um breve texto sobre Manuel Puig, intitulado "Não me diga adeus". Ela relembra as vezes que encontrou Puig, sempre ligado às águas das piscinas: em primeiro lugar na cidade do México, ambos exilados da Argentina, Manuel nadando e Tununa olhando (o estilo crawl de Puig é impecável, escreve ela, sua pele é bronzeada, seus dentes brancos e seus cabelos negros, tudo realçado pela performance sem falhas do escritor-nadador).

2) Conversavam à beira da piscina sobre literatura e sobre a atividade da escrita - mesmo já escrevendo há dez anos, diz Puig a Tununa, que relata em seu texto, toda vez que recomeça ainda sente uma espécie de stage fright, um "pánico a la máquina" (em uma foto desse ano, 1975, ele aparece com sua Lettera 22 sobre uma mesa precária de desenho). No fim de 1974, enquanto escrevia O beijo da mulher aranha, Puig assistiu dezenas de filmes mexicanos de cabaré com objetivo de inventar um que fosse o denominador comum de todos, para ser incluído no romance. Tununa descreve os vários números musicais que Puig performou para ela.

3) Em 1978, Mercado vai a Cuernavaca para entrevistar Manuel: ele havia alugado uma grande casa sem móveis, mas com piscina. A entrevistadora leva a filha de 12 anos, Magdalena, e Puig pergunta: você gosta do Travolta? Coloca o disco de Embalos de sábado à noite e faz uma imitação perfeita do astro mencionado. Passamos o resto da tarde relembrando canções dos anos 40 e 50, escreve Tununa, rindo das imitações que Puig fazia de Esther Williams, Lilian Harvey, Marlene Dietrich. 

(Tununa Mercado, "No me digas adiós", La letra de lo mínimo, Rosario, Beatriz Viterbo, 2003, p. 59-63)

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