1) Em Las tres vanguardias, curso universitário que virou livro, Ricardo Piglia apresenta, entre muitas outras coisas, uma diferença clara entre Manuel Puig e Saer: o primeiro escreve depois de Borges e deliberadamente recusa seu legado. O material da ficção de Puig é heterogêneo, popular: letras de canções, cinema hollywodiano, novelas de rádio, melodrama, folhetim. Exilado da Argentina por conta da ação de grupos policiais paralelos ligados à terceira presidência de Perón, Puig começa a trabalhar com o gravador, registrando as vozes e os relatos de indivíduos das mais diversas proveniências (sobre Puig, Onetti declarou: en las novelas de Puig se sabe cómo hablan sus personajes, pero no como escribe el autor).
2) Com a absorção do imaginário cinematográfico, Puig estabelece uma peculiar relação entre tradição e vanguarda. Puig, além de narrador, era um pesquisador do cinema, um colecionador de filmes, cartazes e fotografias (sua cinemateca tinha mais de 1.500 itens), além de um entusiasta da produção cinematográfica latino-americana (nesse aspecto é possível pensar em uma longínqua ressonância borgiana, especialmente se levarmos em consideração as análises que Edgardo Cozarinsky faz da relação entre Borges e o cinema, especialmente aquele feito pela diáspora teutônica na Hollywood dos anos 1930).
3) Os últimos anos de Puig o levam a uma mudança geográfica e linguística: Sangre de amor correspondido, de 1982, é escrito no Rio de Janeiro, em um português oralizado e selvagem. O ponto de partida são as gravações que Puig faz das histórias de um pedreiro que trabalhou em seu apartamento. Cae la noche tropical, de 1988, foi seu último romance e também escrito em português - a camada autobiográfica é evidente com a personagem Luci, argentina que vive no Rio de Janeiro e que recebe a visita da irmã Nadia. Puig morre dois anos depois, em 22 de julho de 1990, aos 57 anos, no México.
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