Gosto do salto que dá Anne Carson em direção a Tom Stoppard em um ensaio seu sobre o sono, ou seja, "Toda saída é uma entrada (um elogio do sono", publicado originalmente em uma revista em 2004 e agora disponível, em português, na coletânea Sobre aquilo em que eu mais penso (ed. 34, 2023, trad. Sofia Nestrovski) . Ela está falando de Homero e de Odisseu, de como Odisseu enfrenta sérios problemas para dormir, e, de repente, surge Stoppard e um comentário sobre Rosencrantz e Guildenstern estão mortos:
"Nela, dois cortesãos shakespearianos se veem de repente no meio da tragédia de Hamlet e não sabem ao certo quem os introduziu no texto. Ainda assim, eles se desdobram para interpretar seus papéis, conseguem declamar as falas corretas e acabam sendo mortos na Inglaterra, como manda o enredo de Shakespeare. Não fica claro se estão dormindo ou acordados; eles dizem que se levantaram ao raiar do dia, mas agem como pessoas presas dentro de um sonho ruim. Um sonho ruim e familiar" (p. 110)
Ainda, e de novo, a célebre frase de Stephen Dedalus no Ulisses de James Joyce: History, Stephen said, is a nightmare from which I am trying to awake. A frase está no começo do romance, no segundo capítulo - no esquema dos episódios, o segundo capítulo está dedicado ao Nestor de Homero (a quem Telêmaco busca para saber mais de seu pai), a cena se passa na Escola, a cor é o Castanho, o símbolo é o Cavalo, a técnica é o Catecismo e a arte trabalhada é justamente a História. Dedalus é professor, e a primeira metade do capítulo se passa na sala de aula, ele diante dos alunos (a segunda metade no escritório do supervisor, diante do qual Dedalus emite a frase). A sala de aula é a clausura que mantém e torna possível o pesadelo.