1) Acima, a curiosa capa do livro de Alan Pauls sobre o desenhista argentino Lino Palacio [1903-1984]. Eu, infelizmente, ainda não tive acesso ao livro - não sei dizer, portanto, o que Pauls encontrou de criticamente produtivo em Palacio. Mas é interessante observar esse gesto de Pauls em direção ao que alguns chamam de "cultura de massas", ou ainda, "artefatos culturais de ampla repercussão" [que são justamente aqueles que Puig usará fartamente em seus livros: filmes populares dos anos 1930 e 1940, revistas de fofocas, revistas de moda, jornais sensacionalistas, etc]. Palacio publicou desenhos em inúmeros periódicos argentinos a partir da década de 1930, criando personagens que procuravam plasmar, nas breves historietas das tiras, estereótipos humorísticos da cultura argentina.
2) Se pensarmos em um livro como História do pranto, de Pauls, que procura atravessar as memórias sentimentais de uma criança que cresce durante a ditadura militar, lembraremos das recorrentes referências aos tais "artefatos culturais". Alan Pauls já declarou que sua trilogia [a história do pranto, do cabelo e do dinheiro] é também uma forma de rever e atualizar o vasto arquivo de imagens que ele adquiriu em sua infância, além de uma reflexão acerca da composição do imaginário argentino contemporâneo, e penso que o livro sobre um cartunista popular [que trabalhava muito com revistas infantis, como a Biliken] realizado na década de 1980 seja uma das primeiras etapas desse esforço ficcional que agora corre o mundo em tradução. E na postura de ressignificação desses artefatos, Pauls também está diante de Puig, mestre na arte da montagem de partes heterogêneas [o alto e o baixo, o popular e o erudito, etc].
3) A história da morte de Lino Palacio é bizarra e trágica: foi assaltado e assassinado em sua casa por uma mulher e dois viciados em drogas, em 1984. A mulher foi presa, a história de seu crime passou na televisão e, sob intensa cobertura midiática, foi solta em 2006.
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