2) Na foto, a paisagem se funda perfeitamente com a materialidade da casa familiar: parte do horizonte está tomada por essa natureza tão convidativa; o contraste é intenso com a madeira da casa, sua cor e textura (as feições fechadas da mãe e do menino falam de um corte com relação a essa liberdade da paisagem, tão próxima e, ainda assim, tão distante). Mari atua, portanto, nesse intervalo entre geral e particular, entre o social e o privado - dinâmica que se torna visível nessas fotos que são resgatadas do álbum familiar, algo que já acontece em algumas ficções de Sebald e, mais recentemente, em certos textos híbridos de Annie Ernaux (como em Os anos).
3) A fotografia do filho e da mãe do lado de fora da casa, contudo, não oferece nada disso diretamente - depende da elaboração narrativa que faz Mari nesse livro tão sabiamente intitulado Lenda privada (é no desdobramento ficcional dos elementos oferecidos pela imagem que melhor se identifica a produtividade estética desse paradoxo do título de Mari).
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