Freud era fascinado pelas marcas de "desdivinização" no pensamento e na cultura, pelos eventos de ruptura de uma situação imaginária de tranquilidade e harmonia: ele dá os exemplos de Copérnico, Galileu e Darwin, responsáveis pelo aprofundamento da descentralização do sujeito (não mais centro do universo; não mais centro dos seres vivos).
Tal ruptura é internalizada por Freud: com a ideia do inconsciente, o sujeito já não é mais "senhor" em sua "própria casa", ou seja, a performance do sujeito responde muitas vezes a estímulos subterrâneos, enviados de complexos mecanismos de repressão e recalque, frequentemente organizados desde a infância. Outra figura de autoridade que Freud ajudou a questionar foi Kant: o imperativo da moral, que deve ser categórico e internalizado por igual entre todos, é disseminado entre incontáveis formas de adaptação diante da moralidade (que agora é historicamente situada, e não mais enviada do alto, eterna e imutável).
Não se trata mais de aplicar o universal a cada vida individual, mas de tornar o universal aplicável a cada caso específico. Nesse sentido, Freud também dissolve o projeto centralizador de Nietzsche, que fala da "vontade" como outrora se falava da "Verdade". Para Freud, as diferentes abordagens do sujeito diante do mundo são estratégias de autodescrição, autocriação, automodelagem; o trabalho psicanalítico envolve a elaboração consciente dessas estratégias inconscientes de sobrevivência, ou seja, transformar a performance automática em narrativa (Susan Sontag fala disso em seu primeiro livro, Freud: The Mind of the Moralist, de 1959, publicado com o pseudônimo "Philip Rieff").
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