1) A questão da língua materna é central em Coetzee - mais do que isso, o confronto da língua-padrão, a língua-origem, com outras línguas e a narrativa produzida por esse confronto. Uma das primeiras condições de existência no Novo Mundo construído em A infância de Jesus e A vida escolar de Jesus é justamente a troca de língua - os novos habitantes chegam no porto e recebem a tarefa de se comunicarem apenas em espanhol dali para a frente.
2) Em Diário de um ano ruim, por exemplo, Coetzee - ou o narrador identificado como "JC" - chega a dizer que acredita não ter uma língua materna. Poucos anos adiante, na correspondência que Coetzee troca com Paul Auster - reunida no livro Here and Now, de 2013 -, ele explora novamente o tema (especialmente na carta de 11 de maio de 2009).
3) Um aspecto curioso da questão é que, na carta para Auster, Coetzee declara que toda a reflexão sobre a língua materna foi sugerida pela leitura de um livro de Jacques Derrida, O monolinguismo do outro: chama a atenção de Coetzee como Derrida mescla um registro autobiográfico com uma reflexão "altamente teórica", repensando sua condição de infância na comunidade judaica da Argélia dos anos 1930 (e Coetzee encontra parte dessa estranheza declarada por Derrida em sua própria infância na África do Sul, na qual o inglês não era sentido como uma língua materna, mas como apenas mais uma disciplina escolar).
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