terça-feira, 18 de março de 2014

Antigos mestres

Por alguma razão obscura, eu pensava em Sebald enquanto lia Antigos mestres, o romance que Thomas Bernhard publicou em 1985. Talvez fosse por conta dessa tática de aprendizado a partir da escuta, que Bernhard executa tão bem em Antigos mestres e que também movimenta toda a construção do Austerlitz de Sebald. Sebald narra a partir daquilo que escuta de Jacques Austerlitz, histórias sobre a potência enganadora do passado, sobre a mobilidade insidiosa da memória - e um pouco disso também está em Antigos mestres, já que Atzbacher narra aquilo que o velho Reger lhe conta (embora haja um sutil deslocamento no final do romance de Bernhard, um sutil deslocamento que revela a presença de uma terceira voz, que abarca tanto a de Atzbacher quanto a de Reger e finaliza o livro, deixando os dois personagens no caminho para o teatro). É claro que para além dessa atmosfera difusa de rememoração do passado e atravessamento de vozes (Austerlitz, Reger), o que poderia realmente aproximar Antigos mestres da obra de Sebald é a obsessão pelo visível, a obsessão pela convivência com a imagem - porque o Reger de Bernhard tem como hábito passar horas a fio olhando o mesmo quadro, o Homem de barba branca, de Tintoretto, e vem fazendo isso há anos, dia sim, dia não (nada mais sebaldiano, portanto, esse pacto obsessivo com a imagem).  
Tintoretto, Homem de barba branca, 1545

3 comentários:

  1. Queria muito ler este livro, mas não está mais disponível pra venda, nem tem na internet.

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  2. Queria muito ler este livro, mas não está mais disponível pra venda, nem tem na internet.

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