Fernando Pessoa resiste. Para José Augusto Seabra (Fernando Pessoa ou o poetodrama, p. 51), aquilo que Heidegger escreveu sobre Hölderlin na Introdução à metafísica, aquilo que Heidegger escreveu sobre a possibilidade de contato entre a palavra poética e a palavra filosófica, ganha repercussão plena na obra de Pessoa - "teatro do conflito entre Ser e Não-Ser", escreve Seabra. Para Leyla Perrone-Moisés, não se lê Hegel ou Lacan para ler Pessoa - é Pessoa quem possibilita a entrada em Hegel e Lacan ("não foi lendo Hegel que eu entendi melhor Pessoa; foi porque eu tinha Pessoa em mente que me encantei com a Ciência da Lógica, obra que, de outra forma, me pareceria absolutamente aborrecida ou, pior, totalmente impenetrável. Também foi à luz de Pessoa que muitas páginas de Lacan pareceram-me subitamente claríssimas, justas e de largo alcance", Fernando Pessoa, aquém do eu, além do outro. Martins Fontes, 1982, p. 5). O melhor de tudo é que boa parte da obra de Pessoa simplesmente não sustenta essas posições, como aqueles versos de Caeiro: Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores? ou ainda O único sentido íntimo das coisas / É elas não terem sentido íntimo nenhum (lembrando, aliás, que Caeiro é o mestre de todos). E daí é preciso recomeçar, e o tempo passa e Pessoa resiste.
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