Herta Müller, além dos romances e contos e ensaios que costuma publicar - os romances estão chegando por aqui, e isso é muito bom -, também investe numa arte curiosa e bastante impura: a colagem. Ela inclusive acompanhou seu discurso na cerimônia do Nobel com uma colagem, essa que está aí em cima. São palavras que se juntam, cada qual de sua origem nunca revelada, para manter em pé uma mensagem instável, frequentemente banal, corriqueira. As colagens têm esse ar de improviso, de carta anônima, toda feita de restos, de trapos, de fragmentos sem harmonia, que quando postos em contato não sabem fazer outra coisa que não brigar. Mas mesmo assim o sentido acaba emergindo, por conta do gesto da artista, que arranja uma forma de fazer coexistir o caos e a beleza. É impossível retirar esse ar anárquico da colagem, esse provisório que contraria as expectativas fixadoras da arte clássica. Como se Herta Müller estivesse a ponto de dizer: eu persisto nessa montagem porque sei que ela sempre encontrará um jeito de fugir da minha vontade.
Há 6 horas
Colagem é a arte do anonimato no pedido de resgate, especialmente numa história de ódio, crueldade e ganância. Mensagem escrita com tesoura, pinça e cola.
ResponderExcluirProcede?
Procede, sem dúvida.
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