"Jakob von Gunten foi uma verdadeira decepção para o seu autor. Alienou-o dos amigos. O livro desapareceu das livrarias e nem o público nem os críticos literários lhe deram atenção. E quanta coisa aí se poderia descobrir! Marthe Robert, que traduziu o romance para o francês, observa a sua estrutura de conto de fadas. Jakob é o príncipe que, disfarçado, ou sob o efeito de um encantamento, tem que percorrer o mundo e passar por uma série de provas.
O Instituto Benjamenta descrito no livro torna-se o local das provas e assume um significado mítico. Pode-se também encontrar no romance motivos bíblicos, o do jovem rico que socorre o pobre. Esse romance-diário é também um romance de formação e educação, o Instituto Benjamenta é uma espécie de 'província pedagógica'. Robert Mächler reproduz um comentário de Albert Steffen, que se torna mais tarde escritor e que visitara Robert Walser quando ainda se encontrava no liceu, em 30 de outubro de 1907. 'Na mesa havia o Wilhelm Meister, de Goethe, enorme volume de aparência antiquada. Estava aberto e visivelmente era lido com frequência. Walser falou do estilo de Goethe e informou que estava estudando Wilhelm Meister Wanderjahre (Os anos de viagem de Wilhelm Meister) tanto na forma como no conteúdo. Era para ele um modelo ao qual voltava sem cessar'.
Esta referência a Wilhelm Meister é interessante. Como Goethe, Walser estava à frente do seu tempo ao deplorar a mecanização estéril, a comercialização e o declínio dos valores espirituais. Hoje compreendemos o que queria dizer Walser ao qualificar a instituição onde viveu de 'antecâmara da vida'".
Siegfried Unseld, O autor e seu editor, trad. Áurea Weissenberg, Rio de Janeiro, Ed. Guanabara, 1986, p. 249.
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