1) Quando César Aira escreve sobre Alejandra Pizarnik enfatiza o corte do nome próprio como estratégia de "auto-modelagem" (Self-fashioning, como diz Stephen Greenblatt), um abandono que funda a sua presença artística na "tradição": ou seja, a passagem de Flora Alejandra Pizarnik para Alejandra Pizarnik (repare que a primeira edição do primeiro livro, La tierra más ajena, de 1955, carrega ainda o nome completo).
2) É possível armar uma história da literatura cujo principal eixo seja a recusa do nome, a transformação do nome como estrutura de fundação de uma obra: antes de decidir por Stendhal, Marie-Henri Beyle tentou outros vários (Bombet, Serpière); Faulkner acrescentou a letra "u" ao nome de família; Freud retirou as letras "is" de seu nome Sigismund; e assim por diante.
3) No contexto da América Latina, a transformação do nome também se articula com a questão do alter-ego, do espelhamento textual diferido de uma presença material, histórica - o caso paradigmático, reforçado recentemente com a publicação dos três volumes dos diários, é o de Ricardo Piglia transformado em Emilio Renzi (ele não corta o nome, ele desmembra e recompõe: seu nome completo é Ricardo Emilio Piglia Renzi). Mas o problema é central também em Roberto Bolaño (com Arturo Belano) e com Juan José Saer (com Tomatis ou Pichón Garay).
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