Um dos elementos que garantem a estranheza (logo, a qualidade) das histórias de Juan Rodolfo Wilcock [1919-1978] é justamente a dispersão. Wilcock começou a escrever poesia em espanhol e, a partir da década de 1950, com sua mudança para a Itália, começou a escrever prosa em italiano. Como tradutor, sempre viveu espalhado entre línguas: traduzia do alemão, francês e inglês, transformando-as tanto para o italiano quando para o espanhol. Cursou Engenharia, trabalhou com ferrovias e estava sempre perversamente interessado nas últimas modas científicas. Suas ficções estão cheias de máquinas mirabolantes executando ações banais, estéreis, estúpidas. Frequentemente há um copista, um bibliotecário ou um arquivista. O interesse filológico de Wilcock atravessa continuamente o caminho de seu interesse técnico-científico, o que resulta em um hibridismo estilístico extremamente irônico. A junção de uma intrincada explicação do funcionamento de uma máquina com a isenta descrição do imbecil que a comanda (inventa ou manipula) gera um fortíssimo efeito estético, que Wilcock manejava como ninguém. Seria preciso inventar uma máquina para contar quantos leitores Wilcock ainda tem espalhados pelo mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário