Há um pensamento do testemunho que vai de Monsieur Teste até Vigiar e punir – e Paul-Michel fala muito de Paul Valéry no debate que promove, na revista Tel Quel, em setembro de 1963: Uma nova literatura?, com Sollers, Gandillac e outros (um pouco mais sobre o testemunho em Monsieur Teste, aqui). O testemunho, a testemunha: aquele que está posicionado para ver, um terceiro, às vezes buscando a neutralidade, a palavra final; às vezes irremediavelmente próximo e participante, um sobrevivente. Para Paul-Michel, trata-se do desejo de movimento que acompanha todo olhar: não só vigiar, mas também punir, ou ainda, tocar, violentar, marcar aquilo que chega à vista, e, a partir do contato, gerar movimento, gerar mais e mais material para o olhar. A punição incita o movimento, e o movimento é o alimento do olhar (assim como a proibição é a cortina de fumaça para o fazer falar). O que é ver e falar?, pergunta Paul-Michel no debate de Tel Quel, fazendo referência às obras de Raymond Roussel, Bataille e Blanchot. Suas obras se situam exatamente na dimensão dessa pequena conjunção, desse e, disso que está entre pensar e falar; suas obras são esse intermediário, esse espaço simultaneamente vazio e pleno do pensamento que fala, da fala que pensa, responde Paul-Michel. Uma das lições a tirar da observação da conjunção (daquilo que liga separando) é que, na maioria das vezes, na intervenção da punição está dito mais sobre quem pune do que sobre quem é punido: aquilo que é contemplado também contempla, retorna. Paul-Michel observa que, em Bataille, é o olho fora da órbita, sempre exposto, que nos olha; e, em Sade, é o cu em riste que testemunha.
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