sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O pintor viajante

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1) O Rugendas de César Aira (Un episodio en la vida del pintor viajero) não é figura histórica. Também não é um personagem literário. Rugendas é um monstro - não é à toa que o 'episódio' seja justamente seu desfiguramento. Rugendas vai à América Latina para ser reconfigurado - a terra bárbara marca seu corpo.
2) Rugendas, para César Aira, não é um nome próprio, não é um exercício historiográfico (como Bobi Bazlen para Daniele Del Giudice, ou Duchamp para Octavio Paz): Rugendas é uma função, um dispositivo - não se trata da ficção que se transporta no tempo e narra diretamente de 1837, mas de uma caça aos fantasmas que assombram o presente. A América Latina como uma cobaia perversa que queima o laboratório depois que o prédio já virou um shopping center.
3) Rugendas chega à terra estranha dotado de um sistema de pintura muito rigoroso, um procedimento que lhe permite coordenar a pintura a partir de um número determinado de características, de gestos - o método que ele retira do naturalista alemão Humboldt. Rugendas é literalmente atravessado pelas forças sempre abusivas da terra estranha e, a partir disso, abandona o método e começa a pintar os índios diretamente, ao lado deles, à luz das fogueiras.
4) Assim como o Rugendas de César Aira, o César Vallejo de Roberto Bolaño (Monsieur Pain) é também um fantasma - só que com os polos geográficos invertidos. O corpo também é tocado, a história não aparece como um estudo de caso, o sujeito não aparece como um estudo de caso, mas são ambos forças, pulsões que migram. O sacríficio - entregar a própria sanidade a uma terra estranha - é a ficção da própria morte.
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