quinta-feira, 6 de junho de 2024

Ratos e vermes



Ainda em Crepúsculo dos ídolos, de Nietzsche, e nas notas do tradutor Paulo César de Souza, chama a atenção a recorrência de certos animais: na seção final do livro, "O que devo aos antigos", Nietzsche fala de Christian August Lobeck (1781 - 1860), filólogo clássico alemão, que, "com a venerável segurança de um verme que sempre viveu entre os livros, penetrou nesse mundo de estados misteriosos e se convenceu de que era científico, sendo leviano e pueril ad nauseam" (p. 104-105). Nas notas, o tradutor informa que Nietzsche "alude à expressão Bücherwurm ('verme de livros', 'traça'), que os alemães empregam também para designar os viciados em ler ou colecionar livros" (p. 129, n. 153).
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Já no prólogo do livro, contudo, existe a aparição importante de um animal ou, ao menos, de uma metáfora que se sustenta sobre a imagem de um animal: Nietzsche escreve: "Fazer perguntas com o martelo e talvez ouvir, como resposta, aquele célebre som oco que vem de vísceras infladas - que deleite para alguém que tem outros ouvidos por trás dos ouvidos - para mim, velho psicólogo e aliciador, ante o qual o que queria guardar silêncio tem de manifestar-se..." (p. 7-8). Nas notas, o tradutor informa que a palavra "aliciador" é, no original, Rattenfänger, "apanhador de ratos": "Nietzsche se refere ao flautista de Hamelin (Rattenfänger von Hameln, em alemão), personagem de uma conhecida fábula medieval. Com exceção dos tradutores de língua inglesa e do italiano, que usaram pied piper e incantatore, os demais verteram literalmente a expressão. Nietzsche também a usa em Além do bem e do mal, seções 205 e 295, e A gaia ciência, seção 340" (p. 112, n. 4).

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