sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Cópia, paródia


"A história copia e parodia a história, a história plagia a literatura.

O que narra o conto de Borges 'Tema do traidor e do herói' (situado na Irlanda e com alusões a Parnell, ao Fergus de Yeats citado por Joyce no primeiro capítulo de Ulisses, aos druidas e sua doutrina da transmigração, aos ciclos de Vico), é como o assassinato 'real', histórico, do traidor-herói da emancipação, reproduz o assassinato 'literário' de Júlio César de Shakespeare segundo uma tradução do celta; também foram copiadas partes de Macbeth. O assassinato, em que participou o povo em uma reprodução dos Festspiele suíços, prefigurou por sua vez o de Lincoln. O investigador que descobre a verdade histórica entra na trama da história escrita: cala a verdade e dedica um livro, também previsto em sua escritura, à glória do herói".

(Josefina Ludmer, O gênero gauchesco, trad. Antônio Carlos Santos, Argos, 2002, p. 98-99)

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