2) No texto de 1990, White retoma Roland Barthes, autor que vinha lendo com atenção ao longo da década de 1980 – especialmente o Barthes da “escrita” e do “escrever”, do ensaio de 1970, “Écrire, verbe intransitif?”. Com Barthes, White volta à carga da quebra de paradigma instaurada com as vanguardas do início do século XX – não é mais possível escrever da mesma forma ou ignorar que novas formas de escrita (representação, narrativização do outro e da história) estão disponíveis. A literatura do século XX mostra a intransitividade do verbo/gesto “escrever”, trabalhando a partir daquilo que Barthes (seguindo Benveniste) chama de “voz média”.
3) No contexto realista do século XIX, escreve Barthes (e resume White para seus próprios fins), existe uma clara distribuição entre agente, objeto e ação: aquele que escreve o faz para alguém exterior, anterior ou posterior ao processo da escrita; no caso da escrita modernista, continua Barthes, o agente se faz, se constitui e se constrói dentro e a partir do processo da escrita – o caso paradigmático é aquele de Proust, que existe apenas na escrita, como efeito da escrita (sua memória é uma pseudo-memória, escreve Barthes, pois é um efeito do texto que se apresenta sempre – até hoje – como processo). A “voz média”, portanto, é essa potência da narração que oscila entre voz ativa e passiva (tendo o sujeito no interior da ação, ou seja, no interior do processo pelo qual se dá a escrita).