Em 1972, Paul de Man publica um ensaio sobre Proust, sobre a Recherche, sobre o primeiro livro da Recherche, sobre algumas páginas do primeiro livro da Recherche de Proust. São duas as cenas separadas por de Man: quando o narrador fala da atividade do menino Marcel como leitor e o episódio imediatamente anterior, quando se compara a empregada com uma figura de Giotto.
O objetivo de Paul de Man é mostrar que as contradições internas da obra já indicam, de saída, a impossibilidade de ler a Recherche como um todo coerente. De Man desvia o esforço de sedução estética de Proust em direção a uma leitura que privilegia a sedução retórica, indireta e camuflada e, por isso mesmo, mais "durável". É a disjunção entre "leitura esteticamente sensível" e "leitura retoricamente consciente", escreve de Man, que permite romper a "pseudosíntese" proposta por Proust entre dentro e fora, movimento e repouso, escritor e leitor e assim por diante.
Para exemplificar tanto a "pseudosíntese" quanto a eficácia de um rompimento da "sedução retórica", Paul de Man separa uma expressão recorrente na Recherche, "logo compreendi", plus tarde je compris. A aparição dessa fórmula promete uma satisfação, promete um esclarecimento, uma resolução - mas tal promessa não se cumpre em nenhum momento, ela é sempre postergada a cada nova utilização da fórmula (resta ainda pensar até que ponto a "denúncia" de Paul de Man pode ser lida como uma simples constatação, ou seja, a ideia de que o projeto da Recherche é aquele de uma performatividade em perpétua renovação, e não o desejo de postular um fechamento, uma "pseudosíntese" ou um todo coerente).
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