As notícias que chegavam da Alemanha era terríveis; eram informações de companheiros presos, fuzilados. Vinham também dados preocupantes a respeito de escritores e artistas que pareciam se resignar ou até mesmo conciliar com o regime.
Brecht se preocupava com a posição de Karl Kraus, importante ensaísta austríaco, que andava dizendo coisas que talvez indicassem tendências capitulacionistas. Escreveu, então, um poema no qual tentava refletir sobre as possíveis razões de Kraus, dando-lhes uma réplica. Admitiu que "a injustiça pode vencer, embora isso seja injustiça" [Das Unrecht kann siegen, obwohl es das Unrecht ist]. E descreveu a situação de 1934 em termos sombrios, mas não desesperados:
A opressão se senta à mesa e ataca a refeição
com mãos ensanguentadas,
mas aqueles de quem a comida foi roubada
não esquecem a sensação do pão na boca. E a fome
deles não desaparece
quando a palavra "fome" é proibida.
Era importante, naqueles anos, restabelecer a autoconfiança dos oprimidos e mobilizá-los para a resistência ativa à maré montante do nazifascismo.
*
(Leandro Konder, A poesia de Brecht e a história, Zahar, 1996, p. 49)
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