Relendo recentemente o capítulo nove do Ulisses de Joyce - o capítulo da biblioteca, Cila e Caribde -, especialmente os comentários de Stephen Dedalus e dos demais sobre Shakespeare, notei uma analogia que não lembrava: ao falarem da cama que Shakespeare legou à esposa em testamento, sua segunda melhor cama, alguém afirma que uma cama era uma propriedade bastante substancial, algo como um carro nos dias de hoje (ou seja, em 16 de junho de 1904). O carro como signo de poder aquisitivo, até como extravagância, surge em Sebald, em Os emigrantes, na família de Paul Bereyter, o professor. A época é a mesma: o pai de Paul estabelece seu empório na cidade de S. em 1900, um "empório maravilhoso", onde vendia de tudo, de café a botão de colarinho, de camisola a relógio cuco. Nos anos 20, o pai Bereyter dirigia um Dürkopp, o que causava sensação por onde passava (tal status, tal "extravagância" serve para ressaltar a infâmia que atingiu a família poucos anos depois, levando à morte do patriarca, de "raiva" e "angústia" - e cabe lembrar que foi justamente em seu carro que Sebald perdeu a vida).
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