Hermann Broch, 1886-1951 |
1) Um aspecto interessante e importante da exposição de Edward Said em Estilo tardio é a percepção, continuamente reforçada, que o "estilo tardio" é uma noção (uma metáfora, uma ideia) compartilhada, que se espalha generosamente pela história da cultura (Said resgata Eurípides, por exemplo, lendo-o em contraponto com Sófocles, mostrando a ambivalência do primeiro, seu uso tenso das referências históricas e de seus cruzamentos com o contemporâneo, algo não tão pronunciado no segundo).
2) Pois a noção de "estilo tardio" é retirada por Said de um ensaio de Adorno, é ele que lhe dá a configuração teórica básica que permite a prospecção de esforços semelhantes. No último ensaio do livro, Said resgata um comentário de Hermann Broch sobre a Ilíada de Homero - na realidade, trecho de um ensaio que Broch preparou como prefácio ao livro de Rachel Bespaloff, On the Iliad: A Study of Homer's Interpretation of Man in War and in Peace (1947). O termo usado por Broch, escreve Said, é "estilo de velhice", algo que "nem sempre é fruto dos anos", escreve Broch, algo que amadurece com o tempo, "um novo nível de expressão, à maneira do velho Tiziano, descobrindo a luz penetrante que funde a carne e a alma humanas numa nova unidade".
3) E é nesse ponto que Broch se aproxima de Todorov, no momento em que se aproxima de Goya: "à maneira de Rembrandt e Goya, ambos no ápice da idade viril, descobrindo a superfície metafísica, subjacente ao que há de visível nos homens e nas coisas e contudo passível de ser pintada" (Broch se refere ao primeiro período de ruptura de Goya, época do colapso que o leva a surdez - Goya tem 45 anos). E Broch continua, citado por Said: "ou à maneira da Arte da fuga que Bach ditou na velhice, sem pensar em nenhum instrumento específico, pois o que tinha de expressar estava aquém ou além da superfície audível da música" (Estilo tardio, tradução de Samuel Titan Jr, Cia das Letras, 2009, p. 156).
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