1) "Narrar ou descrever?", o ensaio de Lukács, é de 1936 - rigorosamente o mesmo ano de publicação do ensaio de Walter Benjamin sobre Nicolai Leskov, "O narrador" (e também o ano da primeira edição de Auto-de-fé, de Elias Canetti). O ensaio de Benjamin foi publicado na edição de outubro da revista Oriente e Ocidente, editada pelo eslavista Fritz Lieb. O ensaio de Lukács foi publicado em duas partes: novembro e dezembro, números 11 e 12 da revista Internationale Literatur-Deutsche Blätter ("papéis alemães"), editada em Moscou por exilados alemães (o editor-chefe era Johannes R. Becher).
2) Dois ensaios sobre a narração, o narrador e o ato de narrar - todos eles em direto antagonismo com relação às modas literárias da época (Lukács tem como alvo especial o naturalismo de Zola) e íntima ligação com o substrato arcaico da literatura épica. Para Lukács, sua época é o tempo da decadência: "a relação entre o homem e a sociedade, entre o individual e o coletivo, é tão deformada e fetichizada no expressionismo e no futurismo como no naturalismo".
3) Benjamin toma outro percurso. Não apenas no que diz respeito à avaliação do expressionismo (que Benjamin acolhia com entusiasmo em Döblin e Broch, por exemplo), mas principalmente com relação ao embate entre narração e romance, por exemplo. Benjamin não trabalha na lógica do "ou" - Tolstoi ou Zola -, trabalha na lógica do "e": Flaubert e Leskov, Kafka e Proust... Lukács, mesmo com a "grandeza da experiência soviética" professada em seu ensaio, não tinha espaço para tal abertura.
Convém lembrar da belíssima cutucada que Candinho, também conhecido como Antonio Cândido, dá neste artigo de Lukács em "O discurso e a cidade" no qual ele examina - ai, que saudades de ver isso acontecer! - os argumentos do húngaro especificamente na literatura de Zola. Infelizmente os termos me faltam, a cabeça já não gira como antes, mas, como disse acima, convém. Não repete sua fórmula acima, da disjunção húngaro-soviética e a conjunção germano-judaica (o que, por si só merece uma outra série de considerações), mas oferece para quem reflete sobre o tema aquilo que Lévi-Strauss dizia serem as oposições, digo, que o contrário de uma coisa podem ser duas outras coisas.
ResponderExcluirFeliz Aniversário, mais uma vez.
Não lembro desse texto do Candido, vou dar uma olhada.
ResponderExcluirE esses caminhos aparentemente próximos e aparentemente distantes de Lukács e Benjamin merecem, realmente, outra série de considerações.
Obrigado pelos parabéns!