1) Haveria algo em todo grupo que tenderia, inexoravelmente, ao fascismo? Ou melhor: levar as premissas de formação de um grupo aos extremos levará, de forma incontornável, ao radicalismo? Giorgio Agamben já registrou que Walter Benjamin teria dito a Pierre Klossowski, na década de 1930, que Bataille e a equipe da revista Acéphale trabalhavam para o fascismo - o que faz Agamben ampliar a questão: “em que sentido se poderia dizer hoje que também nós trabalhamos, sem saber, para o fascismo?”
2) É curioso notar que, por trás desse juízo de Benjamin, está toda sua trajetória de não-aceitações: a universidade, o Instituto Warburg, o partido comunista e também o Collège de Sociologie, que Benjamin frequenta brevemente (para assistir as falas de Alexandre Kojève). Será que a tendência de Benjamin ao não-pertencimento funcionou como uma partícula de intolerância, como uma espécie de barreira de ordem subjetiva e não histórica?
3) Como escreve Wittgenstein: imaginar uma linguagem é imaginar uma forma de vida - talvez a forma de vida imaginada por Benjamin para si redunde na visão de um fascismo que é, também ele, imaginário (isso porque o fascismo que Benjamin encontrava em Bataille e no grupo Acéphale era, muito provavelmente, captado naquilo que ele lia e escutava - na linguagem, portanto).
Ou talvez não. Georges Perec, após uma conferência que deu junto com Jean Duvignaud - autor do fodástico e pouco lido "Sociologie du thêatre", que faz uma leitura sobre Shakespeare que Benjamim não só assinaria, mas aprenderia muito sobre poder soberano - fez uma confissão ao sociólogo introdutor de Gilberto Freyre na França. Disse que teve a oportunidade de saltar de páraquedas, e isto está em "Je suis né". E que há um momento na vida, como saltar, em que é preciso aderir, e que isto é felicidade e que, confessa, esta idéia talvez seja fascista.
ResponderExcluirAssim, Camaradas, não sobra nada! Não é por amor a Barthes não - mas eu quero meu direito de viver junto, de pertencer, de falanstério.
ResponderExcluirMas vai ver isso é porque eu sou coroa, e li o que li em outra chave. :)
O fascismo é o que está aí, formas de vida, práticas de circulação que vão meio que no automático. Acho que a maior parte do patrimônio cultural que temos é resíduo cultural fascista - especialmente no que diz respeito aos comentários ao patrimônio (que é basicamente meu campo de ação aqui, estou sempre lidando com textos, o limite do meu mundo é o limite da minha linguagem), comentários frequentemente subsidiados por uma estrutura de privilégios para privilegiados. Eu mesmo me vejo irremediavelmente enfiado nessa estrutura, caso contrário não poderia estar aqui agora, escrevendo esse tipo de coisa (que é mais ou menos como denunciar a metafísica com as ferramentas da metafísica).
ExcluirA idéia é dura, e por vezes exprime algo perigoso. Mas não é algo fundamentalmente diferente daquilo que se encontra nos Grundisse com relação à sobredeterminação do capital, em Marx. É por isso, e quase que exclusivamente por isso, que presto atenção em caras como Deleuze, Guattari e Virilio, assim como no trabalho esquecido de Milza, sobre a velocidade e a aceleração e que encontra um eco dificil de discriminar no conceito de temporalização, em Koselleck. Deles tenho a vontade de sugerir que é preciso desacelerar para não acompanhar com demasiado entusiasmo por coisas que degeneram em meia-vida. Não significa que o fascismo está em tudo, mas que está em todos os lugares numa espécie de diabo à Guimarães Rosa, mas o diabo da sociedade de massa.
Excluir(ERRATA: na quarta linha, ler "sobredeterminação FORMAL do capital.)
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