1) Mais adiante, no último curso que prepara no Collège de France - A preparação do romance -, Barthes continua pensando sobre o viver-junto, mas, agora, articulado diretamente com o fazer literário. Ou seja: quais aspectos do viver-junto repercutem no momento em que o escritor prepara seu romance. Em determinado ponto, Barthes coloca Céline e Proust em contato e declara: Céline jamais ficaria diante de uma lareira. Há, portanto, uma dimensão completamente diversa do viver-junto operando em cada um deles - Proust investindo em uma introspecção metódica, Céline em uma irradiação caótica.
2) Imagens do viver-junto: além do sanatório [de Walser, Kafka, Thomas Mann, etc], há o kibutz de Amós Oz [vide foto], que compartilham certos traços militares [que o próprio Barthes salienta ao falar do sanatório e lembrar a guerra de 14], há o próprio Exército, evidentemente, a caserna, a trincheira [que lugar impressionante para se pensar o viver-junto, um buraco no meio do campo de batalha que, segundo Benjamin, silenciou uma geração inteira]; e, por fim, o Hospício de Sade [que gerou, no mínimo, dois desdobramentos poderosos: a peça de Peter Weiss, Marat/Sade, cujo título completo é A perseguição e assassinato de Jean-Paul Marat encenado pelos internos do Hospício de Charenton sob direção do Senhor de Sade, e o soberbo ensaio de Susan Sontag sobre Sade e a peça de Weiss, que está em seu livro Contra a interpretação].
3) A peça de Weiss é de 1963; o ensaio de Sontag, de 1965. É interessante, claro, observar a voracidade com que Sontag lia seu presente desde seus primeiros anos produtivos [ela tinha 32 anos em 1965], mas é também interessante lembrar que Sade, justamente por esses anos, estava começando a ser lido de forma sistemática e profissional - suas obras completas foram lançadas em 1956, e geraram problemas judiciais ao editor; pouco antes, nomes como Bataille e Sartre começavam a tirar o pó moralista que escureceu a ficção de Sade durante muitos e muitos anos.
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