Howard Bloch também escreve, em Misoginia medieval:
Deseje-se a dama inatingível ou a Santa Virgem, o objeto do desejo está sempre ausente para que o desejo se fixe nele. (p. 189).
Outro desdobramento teórico que pode ser feito a partir do contato entre a cena medieval da poesia cortês e a cena intelectual do século XX leva em direção às ideias de Maurice Blanchot acerca da literatura e de seu "direito de morte", ou ainda, a tendência da literatura de se encaminhar ao silêncio e ao autocancelamento - estratégia que culmina em sua renovação, sua potencialização (é possível pensar nas obras correlatas de Enrique Vila-Matas sobre o tema, Bartleby e companhia e O mal de Montano, este último romance inclusive levando como epígrafe uma frase de Blanchot). A literatura (para Blanchot, mas também para Kafka, p.ex.) recusa seu espaço justamente em seu momento de reivindicação, de ocupação majoritária do imaginário, do cenário ou função social.
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O objeto do desejo está sempre ausente para que o desejo se fixe nele: é exatamente o que vai dizer Alexandre Kojève em sua Introdução à leitura de Hegel: "o desejo é o desejo do outro". Kojève deixa a Alemanha durante a ascensão do nazismo e sucede Koyré na École Pratique des Hautes Études, em Paris. Ali, de janeiro de 1933 a maio de 1939, apresenta seu curso sobre Hegel, pelo qual passaram Raymond Aron, Georges Bataille, Pierre Klossowski, Jacques Lacan, Maurice Merleau-Ponty, Raymond Queneau, Eric Weil, e esporadicamente, André Breton.