sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Ciências Morais, Martin Kohan
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
O grau de parentesco como crítica literária
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Todos sabem que Richard Melville Hall (1965), também conhecido como o cantor Moby, é descendente do famoso escritor norte-americano Herman Melville, autor do clássico Moby Dick, e que daí decorre o nome do artista. Todos sabem que André Sant'Anna é filho de Sérgio Sant'Anna e que Luis Fernando Verissimo é filho de Erico Verissimo. Contudo, há muito mais do que supõe nossa vã filosofia. Abaixo, algumas verdades não muito conhecidas do universo das filiações:
1) Taylor Swift (1989): a cantora norte-americana de apenas 20 anos, que desbancou Beyonce no VMA deste ano, é a filha mais nova de Scott Swift, empresário estabelecido na Pensilvânia, que por sua vez é irmão caçula de Graham Swift (1949), escritor britânico vencedor do Booker Prize de 1996. Consta, inclusive, que Taylor Swift teria escrito, ao longo de um verão, um romance de 350 páginas, ainda não publicado.
2) Penélope Cruz (1974): a atriz vencedora do Oscar é descendente de Julio Casares Sánchez (1877-1964), famoso filólogo, diplomata e crítico literário espanhol, autor de dicionários e de dois volumes de ensaios, Crítica profana e Crítica efímera, publicados na época em que Miguel de Unamuno lançava Abel Sánchez. Una história de pasión, cujo protagonista é livremente baseado na figura de Julio. Encarnación Sánchez (1940-1996), mãe de Penélope Cruz, é neta de Julio Casares Sánchez.
3) Kate Beckinsale (1973): todos sabem que Kate venceu, por duas vezes, o prêmio W.H. Smith para jovens escritores - uma vez com contos, a segunda com poemas. Mas poucos sabem que a estrela de Van Helsing, Pearl Harbor e O aviador cresceu brincando com seu primo mais velho, Blake Bailey, filho mais velho da irmã de Judy Loe Bailey, mãe de Kate. Blake, o primo de Kate, é responsável pela mais recente biografia de John Cheever, além de já ter publicado uma biografia de Richard Yates, autor de Revolutionary Road, recentemente transformado em filme por Sam Mendes.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Animais III
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2) Nas ações biopolíticas contemporâneas, existiriam vidas mais produtivas, que desfrutariam dos avanços da ciência, e vidas consideradas de menor valor, que serviriam de cobaias para experimentos científicos? É só pensar nos testes farmacêuticos mostrados em O jardineiro fiel.
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3) Os corpos estão expostos, excluídos do estado de direito, para usar os termos de Agamben. A geopolítica, ramo da biopolítica, determina zonas de indeterminação nas quais a liberdade é relativizada. Uma coisa é dizer, outra coisa é fazer: é só pensar no abismo entre Russell Crowe e Leonardo DiCaprio em Rede de mentiras, de Ridley Scott.
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4) Zoé: vida pura, biológica. Bios: vida cultivada, comunidade. Homo sacer: aquele que é separado pelo soberano, cuja morte não é homicídio e que não pode fazer parte dos rituais de sacrifício – está na lei como um exilado. O homo sacer existe biologicamente mas não politicamente, ainda que a manipulação de seu corpo fortaleça a potência política do soberano. O homo sacer é vida nua porque está à mercê da soberania biopolítica. É o marido de Reese Whiterspoon em O suspeito, de Gavin Hood, capturado no aeroporto e enviado para uma sala de tortura no Oriente Médio.
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5) Se o estado de exceção é a regra, como quer Benjamin, como quer Agamben, toda vida é nua e está disponível para edição e cerceamento. Paradoxalmente, a vida menos nua talvez seja daquele sujeito que vive no interior do Pará, sem luz elétrica.
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6) Agamben afirma que “o ingresso da zoé na esfera da polis, a politização da vida nua como tal, constitui o evento decisivo da modernidade, que assinala uma transformação radical das categorias político-filosóficas do pensamento clássico” (p. 12).
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7) E diz mais: “o corpo do homo sacer e a vida nua constituem a força e, ao mesmo tempo, a íntima contradição da democracia moderna: ela não faz abolir a vida sacra, mas a despedaça e dissemina em cada corpo individual, fazendo dela a aposta em jogo do conflito político. (p.130). Os agentes de 20 milhões de dólares do projeto Treadstone, em A identidade Bourne, que sofriam de dores de cabeça e uma série de problemas físicos e mentais, decorrentes das intervenções realizadas artificialmente, são bom exemplo. Seu corpo é a aposta da soberania no jogo do conflito político, e sua morte é apenas uma baixa.
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8) O poder soberano clássico fazia morrer. A biopolítica moderna fazia viver. O estado de exceção contemporâneo faz sobreviver. Trata-se de um mecanismo de manutenção controlada das vidas – deixar a vida exposta ao puro exercício da técnica.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Animais II
1) O Holocausto: humanos subjugados por um Estado totalitário (o nacional-socialismo como uma máquina antropológica muito específica em sua política racial e biológica (o alemão é a terra e o sangue)), exterminados em matadouros - e a analogia talvez não seria com gado, como queria Paul Singer e Elizabeth Costello, mas com uma infestação de insetos: baratas, cupins, formigas. Está no termo usado por Hitler - Ungeziefer - que Ricardo Piglia observa, em Respiração artificial, ser o mesmo utilizado por Kafka para denominar o inseto no qual Gregor Samsa havia se transformado.
5) Alcança-se a animalidade no extremo da passividade (o prisioneiro que se submete como uma ovelha que vai ao sacrifício) e no extremo da atividade (o soldado que se empapa no sangue durante as execuções, como uma besta). Um homem de 220 quilos pastando McDonald's e Burger King em frente à TV, uma "tia" de creche que queima o tornozelo de uma criança com a ponta de um cigarro aceso.